Expolux entrevista Alessandro Azuos: os avanços da iluminação cênica no Brasil  

Expolux entrevista Alessandro Azuos: os avanços da iluminação cênica no Brasil

 

A Iluminação Cênica está em alta no Brasil. É o que destaca o professor, palestrante e lighting designer, Alessandro Azuos, um dos profissionais que têm contribuído para o desenvolvimento do segmento atuando em projetos, no processo de formação de iluminadores e iluminadoras e também na divulgação de conhecimentos para quem quer conhecer e se aprofundar na área. 

Ele é autor do Dicionário da Iluminação Cênica.

E os motivos são vários. Além do país estar na rota de grandes shows internacionais, o investimento em cenários musicais por artistas nacionais, em espetáculos teatrais, algumas montagens inspiradas em versões da Broadway, monumentos urbanos e também em projetos arquitetônicos comerciais e corporativos têm mobilizado o mercado.  

Sobre o assunto, o especialista concedeu uma entrevista para Expolux onde destaca o crescimento da atividade, a sua importância, as oportunidades, a demanda de profissionais qualificados e também as novas tecnologias empregadas no segmento, que é um dos mais inspiradores e admirados por profissionais da iluminação. Confira:

Expolux - Alessandro, apesar ser um mercado não muito divulgado em relação aos outros tipos de iluminação, a iluminação cênica é muito inspiradora e admirada por lighting designers. Neste sentido, na sua opinião, como a atividade tem sido reconhecida no setor?

Alessandro Azuos - Na última década, percebi um crescente interesse pela Iluminação Cênica, especialmente entre profissionais das áreas de Arquitetura e Engenharia. Em minhas oficinas e palestras, noto que muitos buscam entender as técnicas envolvidas, como o uso de cores, controle e ângulos de incidência, aspectos fundamentais para quem trabalha com iluminação de entretenimento.

Vale ressaltar que a Iluminação Cênica tem suas raízes na ‘iluminação de palco’, que, por sua vez, começou a ser desenvolvida com o interesse de arquitetos do Renascimento e do Barroco em iluminar cenas de forma adequada. Nomes como Palladio, Scamozzi, Alleoti, Sérlio, Sangallo, Leone de’ Sommi, Furttenbach, Bibiena e Sabatini foram essenciais, não apenas para o desenvolvimento da arquitetura teatral, mas também para as soluções cenográficas e de iluminação que introduziram.

Esses pioneiros preocuparam-se em destacar os detalhes nas cenas, mesmo utilizando recursos limitados como luzes de velas, anteparos para reflexão e vidros coloridos. Essas técnicas, que hoje aplicamos com facilidade, são o alicerce da arte da Iluminação Cênica, e continuam a influenciar o setor contemporâneo.

Expolux - O que você considera como um projeto de excelência na iluminação cênica? Quais requisitos precisam ser atendidos? Pode citar exemplos?

Alessandro Azuos - Um projeto de excelência na Iluminação Cênica, na minha opinião, é aquele em que a luz se integra de forma harmoniosa e artística com todos os elementos da produção, respeitando a obra em sua totalidade e proporcionando uma experiência imersiva para o espectador (visualizador que contempla a obra). A iluminação deve complementar a narrativa visual da obra e criar uma conexão entre o palco e o público, algo que podemos chamar, através de um termo emprestado da antropologia, de ‘proxêmica teatral’, que é criar essa aproximação entre artistas e espectador.

 

Os requisitos que considero fundamentais para um projeto de Iluminação Cênica de excelência incluem:

a)    Percepção: Compreender o que precisa ser visto e mostrado, ajustando a iluminação para segmentar ou ampliar os espaços conforme a necessidade da obra. É necessário adaptar a luz para destacar os elementos importantes e garantir que todos os detalhes necessários sejam visíveis.

b) Forma: Controlar os ângulos de incidência, as cores e a intensidade da luz que servem para destacar ou suavizar elementos específicos do cenário. A forma como a luz é aplicada pode transformar a percepção do ambiente e influenciar a atmosfera da cena.

c) Movimento: Sincronizar mudanças de iluminação com o tempo certo das cenas e controlar a entrada e saída de efeitos são vitais para criar contrastes e apoiar a narrativa. A iluminação deve guiar o olhar do público e ajudar a contar a história de maneira eficaz.

Um exemplo prático de um projeto de Iluminação Cênica de excelência pode ser visto em produções de musicais, num estilo da Broadway. Nessas obras, a iluminação não apenas ilumina os cantores, mas também realça a grandiosidade das músicas, dos cenários e figurinos, além de intensificar a dramaticidade das cenas. A luz desempenha um papel importante em criar a atmosfera e acentuar os momentos-chave da performance. Existe no projeto de Iluminação Cênica a ligação entre a Percepção, a Forma e o Movimento no uso da iluminação, criando assim a proxêmica teatral, que comentei anteriormente.

 

Expolux - O Brasil tem se destacado também por sediar grandes shows, festivais musicais, peças de teatro com montagens inspiradas em espetáculos da Broadway, etc., além de contar com inúmeras atrações turísticas que necessitam de trabalho especializado. Como esses fatores têm contribuído para cenário profissional dos iluminadores cênicos?

Alessandro Azuos - Os eventos de grande porte no Brasil sempre foram um divisor de águas para o avanço da tecnologia no país, criando oportunidades para especializações na área de Iluminação Cênica. Embora ainda não tenhamos um curso formalizado no país, muitos cursos livres vêm suprindo essa demanda, que cresce cada vez mais.

Esses eventos trazem consigo novas tecnologias, fato relatado por diversos profissionais com maior tempo de carreira. Aqueles que trabalharam no primeiro Rock in Rio, em 1985, mencionam o acesso a equipamentos que antes não estavam disponíveis aqui. No teatro, temos como outra referência a peça 'Vestido de Noiva', de Nelson Rodrigues, dirigida por Ziembinski em 1943. Ela contou com um projeto de iluminação incomum para a época, utilizando a divisão de planos e diversos espaços do palco, operando mais de 100 movimentos de luz, o que mudou significativamente o conceito de criação de projetos na Iluminação Cênica no Brasil.

A evolução da iluminação, em seu todo, é constante, e atualmente estamos em uma fase de transição das fontes de luz de filamento e vapores metálicos para o LED, além da migração de aparelhos convencionais e estáticos para dispositivos robóticos. Isso exige que os profissionais estejam sempre atualizados com as demandas do mercado.

O uso de softwares e consoles de controle de iluminação se tornou indispensável, alterando significativamente a forma como os projetos são desenvolvidos.

Um exemplo claro, que gosto de trazer para demonstrar a prática real dessa evolução, é o uso do ângulo de contraluz no palco: antigamente, era necessário utilizar uma grande quantidade de equipamentos para criar diferentes cores, enquanto que, atualmente, com uso das tecnologias de LED e da robótica, é possível fazer isso com muito menos equipamentos, facilitando as montagens e ampliando as possibilidades criativas durante o espetáculo.

Expolux - Ainda com base na pergunta anterior, qual é o atual momento do mercado na disponibilidade de profissionais qualificados? E que análise você faz dos desafios de formação profissional?

Alessandro Azuos - O mercado de Iluminação Cênica no Brasil tem experimentado, como já dito, um crescimento significativo nessa última década, mas esse crescimento desenfreado também trouxe à tona desafios relacionados à disponibilidade de profissionais qualificados.

Apesar do aumento na demanda por serviços especializados, a oferta de profissionais capacitados ainda não acompanha plenamente essa necessidade.

A formação profissional enfrenta obstáculos, principalmente pela ausência de cursos formalizados na área, mas para suprir essa demanda, algumas ações têm sido desenvolvidas. O que vejo é que muitos cursos livres e workshops especializados surgiram como alternativas importantes em todo o Brasil, oferecendo principalmente a capacitação técnica e atualização sobre as novas tecnologias, como a transição para o LED e o uso de aparelhos robóticos e área operacional através de softwares e consoles de iluminação.

Esses cursos têm desempenhado um papel fundamental e extremamente importante na formação técnica de profissionais, suprindo as lacunas deixadas pela ausência de cursos regulares. Além disso, a troca de conhecimentos entre profissionais mais experientes e novos talentos têm sido fundamental para a qualificação da mão de obra.

Mas ainda reitero que é necessário um esforço maior para estruturar programas de formação continuada e a criação de uma base sólida de conhecimento técnico que atenda às demandas cada vez mais complexas do mercado.

Expolux - Falando de tecnologia, temos visto uma série de ferramentas para otimização do uso da iluminação, que tem proporcionado maior controle pelos usuários, menor impacto ambiental, cuidados com a saúde e a possibilidade de obtenção de dados de consumo. Essas ferramentas têm ganhado espaço na iluminação cênica? Caso sim, o que tem surgido de novidade e que mudanças elas trazem para os projetos?

Alessandro Azuos - O uso de tecnologias avançadas, como o LED, tem impulsionado uma maior consciência sobre o impacto ambiental e o consumo de energia na Iluminação Cênica. A adoção de LEDs não apenas reduziu o consumo energético, mas também aumentou a eficiência nas montagens, permitindo uma maior rapidez e flexibilidade na criação de cenários.

Além disso, a introdução de aparelhos robotizados e sistemas de controle remoto têm revolucionado o setor. Esses equipamentos não só melhoram a precisão e o controle sobre os efeitos de iluminação, mas também minimizam os riscos de acidentes, especialmente durante a montagem de estruturas como grids de alumínio em grandes alturas.

Essas inovações estão redefinindo a maneira como os projetos de Iluminação Cênica são concebidos e executados, trazendo mais segurança, eficiência e sustentabilidade para o setor.

Expolux - Para finalizar, a Expolux está chegando. Como você avalia a importância do evento para profissionais da sua área, o que espera encontrar e qual a sua perspectiva para a iluminação cênica nos próximos anos, no país?

Alessandro Azuos - Como profissional e educador nessa área há algumas décadas, vejo a Expolux, a maior feira de iluminação em arquitetura e urbanismo da América Latina, como um evento crucial para os profissionais da Iluminação Cênica. Essa feira oferece uma oportunidade única de explorar novas tecnologias e equipamentos e adequarmos aos aparelhos da nossa área de trabalho.

Na Iluminação Cênica, utilizamos uma ampla gama de dispositivos avançados, mas as fontes de luz em si permanecem as mesmas. O que distingue nossos equipamentos é sua sofisticação: trabalhamos com aparelhos de alta luminância, dispositivos robóticos que permitem controle preciso, sistemas para troca de cores, globos para criar texturas e efeitos, e mecanismos para ajustar a abertura e o recorte dos fachos de luz. Embora a tecnologia de iluminação tenha evoluído, a natureza das fontes de luz permanece as mesmas.

Outro destaque é que nosso trabalho é muito dinâmico e efêmero; precisamos montar, afinar, programar, operar e desmontar em um curto espaço de tempo, ao contrário de grande parte de projetos luminotécnicos na arquitetura, que são projetados para permanecer mais tempo.

Minha perspectiva para a Iluminação Cênica é bastante otimista. A área está em forte expansão, com uma demanda crescente por tecnologias modernas, como LEDs e aparelhos robóticos. Setores diversos, como igrejas, produtoras de eventos de pequeno e médio porte, teatros e espaços artísticos, estão investindo cada vez mais em atualizações tecnológicas. O que busco trazer em meus materiais, aulas e palestras é um pouco mais da lacuna quanto ao estudo técnico mais aprimorado que se alinha a esse espantoso desenvolvimento tecnológico.

Minha expectativa no campo educacional é que está se expandindo, com um aumento na procura por formação especializada, tanto presencial quanto on-line. Estou bastante animado para acompanhar o desenvolvimento do mercado e continuar contribuindo para a formação de novos profissionais.

Na 18ª edição da Expolux, Alessandro Azuos conduzirá a palestra “A emoção da iluminação cênica na arquitetura”, na quarta-feira (18), às 17h, um dos temas da grade de programação do Simpósio Internacional de Iluminação (Simpoled), realizado em parceria com a ABILUX e com a curadoria da revista  LUME Arquitetura.

A Feira Internacional da Iluminação acontecerá de 17 a 20 de setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo. O credenciamento pode ser feito de forma on-line e gratuita aqui. Aproveite e garanta sua participação.